Com cuidado e proteção Neca reordena Serviços de Acolhimento de Santa Cruz do Rio Pardo
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De 2018 a 2020 foi realizado no município de Santa Cruz do Rio Pardo o projeto Cuidado e Proteção: Assessoria ao Reordenamento dos Serviços de Acolhimento Institucional.
Entretanto, a equipe do Neca começou a atuar na região em 2017, examinando a situação das crianças e adolescentes que precisavam de acolhimento. Localizado no estado de São Paulo, o município possui menos de 50 mil habitantes e passou a acolher também, crianças de cidades vizinhas como São Pedro do Turvo e Espírito Santo do Turvo. Ao implementar estratégias de reordenamento na rede de acolhimento, o Neca alcançou esferas sociais variadas e incitou a reflexão acerca da vivência da criança para além do ambiente institucional. Portanto, a cultura, o lazer, a autonomia, os estudos e o afeto constituem elementos que devem ser considerados e presentes na vida dos jovens. “Implementar essa realidade foi um desafio, mas a partir de uma equipe engajada e de um longo processo de reordenamento, tornou-se possível”, contou Alice Duarte de Bittencourt, formadora pelo Neca.
O projeto Cuidado e Proteção foi financiado pela empresa Special Dog, uma companhia produtora de alimentos para pets, e apoiado pela Secretaria Municipal de Assistência Social. Inicialmente, a previsão de duração do projeto era de três anos, mas ao final do segundo ano, o proprietário da empresa decidiu investir na primeira infância e retirou os investimentos do programa inicial. Apesar de ter sido interrompido antes do tempo planejado, o projeto manteve sua influência sobre a necessidade de pensar em novas formas de cuidados para as crianças e os adolescentes afastados do cuidado parental.
Os cursos sobre Acolhimento Familiar e Apadrinhamento Afetivo, formações que o Neca realizou em Santa Cruz do Rio Pardo, com as formadoras Alice Duarte de Bittencourt e Juliana Saliba Del Tomazzo, foram essenciais para aguçar essa reflexão, assim como as parcerias do Juizado da Infância e Juventude e da Promotoria da Infância e Juventude, imprescindíveis para que estas mudanças acontecessem de fato.
Serviços
Dois serviços de acolhimento formavam a base do projeto e ambos recebiam crianças e jovens de 0 a 18 anos. Um dos diretores da Special Dog era meio padrinho do programa e, por isso, provia o que era necessário, garantindo a ausência de problemas financeiros.
O primeiro serviço de acolhimento era um muito grande e, inclusive, ficou conhecido como educandário. A construção possuía vários portões e não era um ambiente muito cativante por apresentar um aspecto de prisão. A fim de providenciar um ambiente mais aconchegante para as crianças, foi construída uma casa que realmente possuía aparência de lar e que era espaçosa, mas não tão grande. O outro serviço de acolhimento era realizado em uma localidade mais afastada da cidade, bem mais próxima da natureza e das áreas verdes do município, o que tornava o ambiente ainda mais agradável para seus habitantes.
Outro trabalho de ordenamento merece destaque. E esse não foi aplicado na estrutura física do abrigo e sim na concepção interna do projeto. Na casa havia refeitório e brinquedoteca, mas a forma como as crianças eram tratadas nesses ambientes deixava a desejar no quesito autonomia e desenvolvimento. No refeitório, a comida que era servida por merendeiras passou a ser posta pelos próprios jovens, que foram ensinados de maneira adequada a realização da tarefa. Já a brinquedoteca, era mantida trancada porque temiam que as crianças danificassem os brinquedos, afinal, algumas não possuíam conhecimento sobre as brincadeiras ou não sabiam como brincar porque nunca foram ensinadas em seus lares originais.
Dessa forma, a ação do Neca implementou um sistema fora da lógica do refeitório e estimulou a autonomia das crianças. Além disso, incentivou uma consciência sobre seus comportamentos, ensinando como brincar e também preservar. Ou seja, novas práticas foram adotadas para promover a humanização e socialização dos jovens, transformando um momento complexo em algo mais leve. Também é importante destacar a sensibilização dos educadores como outro aspecto importante nesse reordenamento.
Na segunda metade do segundo ano de projeto, por exemplo, os educadores organizaram um jantar com as famílias de origem. A organização do evento foi dividida em comissões e os próprios educadores levaram os alimentos. A partir da sensibilização, é possível reconhecer a importância da família de origem e acolhê-la adequadamente. Ou seja, é fundamental acabar com a ideia de que os parentes são os inimigos, porque na verdade, eles só não aprenderam a cuidar. “O jantar, organizado em uma associação parceira, foi uma demonstração de cuidado com as famílias, que também são dignas de afeto e aconchego. Muitas famílias choraram emocionadas nos depoimentos de despedida da festa”, descreveu Alice Bittencourt.
Apadrinhamento
Além desses serviços, foi criado em 2018, o Programa de apadrinhamento, que dispõe de três modalidades: Apadrinhamento afetivo, Apadrinhamento de serviços e Apadrinhamento material. Esse programa teve como principal objetivo estimular o desenvolvimento de aspectos sociais, morais, educacionais e financeiros na vida dos jovens. Dessa maneira, eles receberam a oportunidade de viver experiências que ultrapassaram as fronteiras da instituição, seja por meio de passeios com os padrinhos ou de atividades culturais. O reordenamento, organizado pelo Neca e seus apoiadores, favoreceu a socialização das crianças e adolescentes nos abrigos de Santa Cruz do Rio Pardo. Ao observar os resultados do projeto, é inegável o papel positivo que exerceu na vida da população, tanto pela ação direta quanto pela mobilização para a reflexão.
Texto: Lívia Lima Felipe | Revisão de conteúdo: Alice Duarte de Bittencourt | Edição: Jan Abreu